segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Das condições poéticas – Uma visão sobre o que é poesia

“A palavra tem, por conseguinte, dois sentidos: um sentido imediato e um sentido
interior. Ela é a pura matéria da poesia e da arte, a única matéria de que essa
arte pode servir-se e graças à qual consegue tocar a alma.”.
Do espiritual na arte – Wassily Kandinsky

Tenho pensado recorrentemente no rumo com que a poesia vem tomando nessa época de globalização, confesso que desanimo e esta apatia me impulsiona a escrever este artigo tentando, utopicamente, esclarecer a criação poética e responder diversas perguntas a respeito do tema, porque mais do que nunca, é tempo de ir além.

Posso iniciar diferenciando as palavras poesia de poema: em nível inferior, poesia é um texto que se propõe a ser mais lírico, ou seja, de apelo subjetivo; em outra ocasião, poesia pode ser significada como um conjunto de poemas. Assim, poderíamos utilizar a seguinte frase – tome meu livro de poesias! Para a palavra poema, diria que se resume em um texto poético (que há poesia), no qual caberiam diversas temáticas, também é a experimentação estética da palavra. Em nível superior, surgem diversas perguntas: a. Em que momento o poema deixa de ser lírico? b. Porque não – tome meu livro de poemas!?

a. O poema nunca deixa de ser lírico, já que a compilação dele se deu através de alguém e este, possui uma personalidade impregnada de sentimentos. Pergunto, é possível relatar algo sem justapormos nossas principais características? Sim, é possível, mas algo (pessoal) sempre acaba ficando em qualquer obra artística.
b. Sim, poderia ser.

Onde quero chegar? Aqui. É aqui que realmente começo este artigo, tudo o que foi escrito anteriormente não passou de um ensaio enfadonho sobre definições. Ah, definições, elas não existem quando tratamos de poesia, são convenções para melhorar a comunicação entre vendedores e possíveis compradores, e convenções se negam quando especificadas demais.

O lugar que quero chegar é extremamente proselitista e quer aproximá-lo e lhe fazer um admirador do mundo poético, e digo, é completamente fácil, apenas preciso que você acredite em mim, senão não poderei continuar. É preciso que você confie em mim.

Tenho em minhas mãos uma maçã vermelha
E uma banana com casca rosa
A maçã é rosa
A banana é verde
Mas hoje comi espinafre e senti o gosto de laranja
Laranja cor de pele.

Vamos transformar isso em imagem:


























O poeta trabalha com um mundo próprio de imagens/símbolos, cada verso sugere um mundo novo que se atrela e se repele ao mesmo tempo, ele solicita que suas palavras sejam aceitas a cada leitura e é aqui a maior barreira criada para aqueles que não possuem o hábito de ler poesia e se deparam por acaso com alguma criação. São dois mundos que entram em choque, o mundo criado a partir das idéias do poeta, com o mundo criado na idéia do leitor. Nesse choque, confusões de cognição se manifestam. Exemplo: a maçã que eu conheço é verde! A casca da banana, quando madura, é amarela e não rosa. Sendo, voltamos com a epígrafe deste artigo, que sabiamente foi dito por Wassily Kandinsky, pintor abstracionista - a palavra possui um sentido imediato e outro interior.

O sentido imediato revirará nossa mente em busca de determinado objeto (substantivo), ou ação (verbo); eu leio a palavra cadeira, comumente associo a um objeto composto por quatro pernas e um encosto que serve como assento. O sentido interior, dependendo da velocidade de associação, se personaliza, toma potencialmente características subjetivas e assim se justifica poeticamente para o leitor.

Podemos constatar que a poesia (palavra), está completamente relacionada a nossa memória, a quê ela representa e com que força ela representa, haja vista que a mesma xícara de chá de hortelã pode trazer sensações completamente distintas para cada pessoa e nesta distinção encontramos o exercício mais encantador em aprender a admirar poesia, como não se aprende poesia falo em assimilar, se deixar ser enfeitiçado momentaneamente por determinada criação. Para tal, é preciso se deixar ser hipnotizado e guiado para o universo de possibilidades proposto pelo poeta. Se a maçã do poeta é vermelha e a sua verde, mordam-na, talvez elas tenham o mesmo sabor, você só não tinha experimentado dessa forma, se não gostar, experimente novamente, nem sempre iremos apreender na primeira vez que lermos, o importante na poesia é se permitir. A título de curiosidade, qual a cor da sua maçã?